O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e o Juntô – Iniciativa Brasileira de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes realizaram, na última sexta-feira (28/11), o webinário “A importância do protagonismo juvenil nas políticas públicas de saúde mental”, última aula aberta do curso Da Lei à Prática: Como Implementar a Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas. O evento reuniu representantes do Ministério da Saúde, de iniciativas estaduais e de organizações internacionais, além de jovens mobilizadores.
Ana Beatriz, integrante do Comitê Jovem do Juntô, foi a mediadora do debate e abriu o encontro ressaltando que escutar os jovens é fundamental para compreender a realidade do ambiente escolar e formular políticas públicas alinhadas às suas necessidades.
Lucas Camilo, estudante de Psicologia e representante do Comitê de Jovens do Instituto Cactus, também integrou o debate, e compartilhou sua trajetória pessoal ao defender a urgência da participação efetiva da juventude nos processos decisórios.
“Nada sobre nós sem nós. A gente precisa ouvir os estudantes e os jovens. A juventude está pronta, ela não é frágil, não é fraca, ela está pronta para dividir a caneta”, afirmou.
Participação juvenil no PSE
Luiza Mayor, assessora técnica do Ministério da Saúde e representante do Programa Saúde na Escola (PSE), compartilhou como o programa integra a saúde mental em suas ações, destacando a capilaridade da iniciativa: hoje o PSE alcança mais de 26,9 milhões de estudantes, em 104 mil escolas, distribuídas por 5.554 municípios.
“A construção do PSE é coletiva. Precisamos pensar como melhorar a qualidade de vida da comunidade escolar como um todo, garantindo que crianças e adolescentes também possam orientar e influenciar o cuidado dentro de suas casas”, destacou.
Mayor destaca a abordagem intersetorial, interfederativa e baseada na participação social do PSE e narra como a saúde mental foi incluída novamente no programa em 2023, respondendo ao cenário de violências e vulnerabilidades no ambiente escolar no contexto de pós-pandemia de Covid-19. Para ela, promover saúde mental não significa transformar a escola em um ambulatório, mas fortalecê-la como espaço de cuidado, escuta e prevenção.
“Como falar do ambiente escolar se não escutarmos os estudantes? É fundamental que jovens participem dos grupos intersetoriais que constroem essa política. A escola deve ser um ambiente atento, em articulação com uma rede de saúde fortalecida e funcional”, afirmou.
Juventude como agente de cuidado e transformação
Erika Waléria, jovem mobilizadora do PSE Pernambuco, fez coro às palavras de Mayor, reforçando a importância do programa para a saúde da juventude. Segundo ela, a juventude sempre ocupou um lugar de protagonismo, decisão e linha de frente nas grandes mobilizações do país e não seria diferente na defesa das políticas públicas de saúde mental.
Ela destacou ainda que ouvir jovens é essencial para identificar violências, discriminações, exclusões e outros fatores que impactam diretamente sua vivência escolar e universitária. Segundo a mobilizadora, o olhar para a juventude negra e periférica exige atenção às especificidades de seus territórios, suas potências e seus desafios. “Somos nós que vivenciamos o cotidiano da escola e podemos atuar como agentes fundamentais no cuidado coletivo. Nosso papel é contribuir para políticas mais humanas, eficazes e transformadoras”, concluiu.
Escolas como espaços privilegiados de acolhimento e prevenção
Encerrando o debate, Gabriela Mora, do programa de adolescentes do UNICEF, reforçou a necessidade de uma abordagem sistemática e intersetorial para a promoção da saúde mental. “Só a saúde não dá conta. Educação, assistência social, arte, cultura, lazer, esporte, espaços comunitários, todos têm papel e responsabilidade na promoção do cuidado”, afirmou.
Ela apresentou experiências acompanhadas pelo UNICEF e destacou que a escola éum espaço privilegiado para identificar mudanças de comportamento e sinais de sofrimento, além de ser estratégico para retroalimentar gestores públicos com as demandas reais da juventude.
“O que aprendemos com adolescentes precisa voltar para quem formula políticas públicas. Precisamos tornar as escolas ambientes mais saudáveis, seguros e criativos”, enfatizou. Gabriela também destacou especificidades de gênero, lembrando que meninas tendem a sofrer mais pressão relacionada à autoestima, mas também falam mais sobre suas questões.
Da Lei à Prática: caminhos para implementação da Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas
O webinário encerra o ciclo de encontros abertos do curso Da Lei à Prática, que desde setembro ofereceu formações sobre a Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas, o cenário global e estadual da saúde mental, estratégias de implementação e avaliação de políticas públicas, e a centralidade da juventude na construção de ambientes escolares seguros e acolhedores. Como resultado, os cursistas apresentarão um Plano de Ação Estadual para a implementação da Política.
O curso é promovido pela Unidade de Atenção Psicossocial às Escolas (UAPSE), por meio do Projeto EntreLaços, em parceria com o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e o Juntô – iniciativa do Global Center da Fundação Stavros Niarchos (SNF) para a saúde mental de crianças e adolescentes no Child Mind Institute (CMI), com apoio do Ministério da Educação (MEC). A iniciativa integra o Acordo de Cooperação Técnica firmado em 2024 entre a SEE-PE e o IEPS.