Em 1938, a cidade de Belterra, no Pará, inaugurou seu primeiro hospital. Tinha uma estrutura moderna com esquadrias, quarenta leitos, farmácia, aparelhos de raio X e sala de cirurgia. A 300 km dali, havia um hospital ainda maior, na cidade de Fordlândia, com 125 leitos, duas alas de dormitórios, sala de cirurgia, radiologia e laboratórios farmacêutico e bacteriológico. Belterra e Fordlândia eram um caso raro. No fim dos anos 1930, além dessas duas cidades, apenas Santarém e Belém, capital de um estado do tamanho de duas Franças, dispunham de instituições com serviços de saúde.
Belterra e Fordlândia foram criadas para abrigar os trabalhadores no projeto do industrial americano Henry Ford (1863-1947) para produzir borracha natural em larga escala na Amazônia e quebrar o monopólio da Grã-Bretanha e seus seringais no Sudeste da Ásia. Além dos hospitais, as cidades ganharam casas, lojas, escolas, cinema, campo de golfe. Em Fordlândia, fundada quase dez anos antes de Belterra, o fracasso foi rápido, com os fungos atacando as seringueiras e devorando a plantação. Em Belterra, o plano deu certo, até que, no fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu a borracha sintética, mais barata que a natural, e a cidade perdeu sua fonte de prosperidade.