Apenas 22% das escolas públicas desenvolveram atividades voltadas ao combate do mosquito Aedes Aegypt em 2024, ano com recordes de casos de dengue no país. Considerando apenas as escolas participantes do Programa Saúde na Escola (PSE), 40% realizou ações de combate às arboviroses no ciclo 2023-2024. Os dados são do Boletim Radar Mais SUS n. 3 – A evolução do cenário de arboviroses no Brasil e a mobilização do Programa Saúde na Escola, lançado nesta sexta-feira (16) e elaborado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), em parceria com a Umane.
De acordo com o boletim, as escolas públicas de São Paulo, Paraná e Distrito Federal, regiões que historicamente enfrentam altos índices de casos de dengue, registraram baixo engajamento no combate às arboviroses. O Distrito Federal, por exemplo, registrou a maior incidência de dengue do país em 2024, com 933 casos a cada 10 mil habitantes, enquanto apenas 17% das escolas participantes do PSE no território desenvolveram atividades voltadas à prevenção da dengue e outras arboviroses.
Percentual de escolas públicas que possuem PSE e desempenharam alguma ação orientada ao combate à dengue, em relação ao total de escolas públicas, por UF e ciclo PSE (2023-2024). Fonte: SISAB e Censo Escolar, 2023.
Para Marcella Semente, analista de relações institucionais do IEPS e uma das autoras da pesquisa, a articulação entre saúde e educação é fundamental no combate às arboviroses, principalmente em estados com alta incidência de dengue.
“O PSE pode ser um grande aliado no combate e prevenção das arboviroses, porque permite a execução de ações de prevenção com capilaridade e baixo custo. Neste ano, o Ministério da Saúde enfatizou as ações de combate ao Aedes Aegypt no âmbito do programa, em resposta à alta de casos de 2024. O Boletim nos mostra que o engajamento das comunidades escolares, de fato, ainda está aquém do seu potencial, mas ele deve ser estimulado junto com ações estruturantes, de infraestrutura urbana e saneamento”, afirma.
Os estados com maior proporção de escolas participantes do PSE com ações de combate a arboviroses foram Rondônia (64%), seguido de Alagoas e Goiás, ambos com 52%. Já os menores percentuais foram registrados em Roraima (16%) e no Distrito Federal (17%).
55% das escolas públicas realizam ações do PSE em 2023-2024
O potencial do PSE é destacado pelo boletim dado a capilaridade do programa em todo território brasileiro. No entanto, embora o PSE se encontre em 99% dos municípios brasileiros, no ciclo 2023-2024, apenas 55% das quase 165 mil escolas públicas do país executaram ao menos uma atividade do programa.
Entre os estados brasileiros, há pouca variação no percentual de escolas públicas que realizaram atividades do PSE durante o período analisado. Mato Grosso do Sul (MS) e o Distrito Federal (DF) lideram o ranking, com 77% de suas escolas tendo realizado ações do PSE, enquanto os estados da Região Norte registraram menor percentual. Amapá, com taxa inferior a 40%, e Acre (AC) e Roraima (RR), onde menos de um terço das escolas realizaram alguma atividade, registraram as menores taxas.
2024 foi ano crítico para incidência de dengue no país
O boletim também analisa a notificação de casos de arboviroses no Brasil entre 2015 e 2024 e mostra que, nesse período, houve um aumento de 181% dos casos no país. Dengue e chikungunya tiveram crescimento expressivo, com casos mais do que dobrando neste período.
A dengue, em especial, atingiu níveis recordes: em 2024, dez estados e o Distrito Federal apresentaram taxas superiores a 100 casos por 10 mil habitantes, com destaque para o DF, que registrou 933 casos a cada 10 mil habitantes e Minas Gerais, com 791 casos a cada 10 mil habitantes. Segundo parâmetro da OMS, a epidemia de dengue em 2024 atingiu 18 Unidades Federativas.
Número de casos notificados de dengue por dez mil habitantes, por UF, em 2015, 2020 e 2024. Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeções da População – Revisão 2024.
No comparativo com outros anos, o boletim destaca que, em 2015, dez estados também apresentaram taxas acima de 100 casos por 10 mil habitantes, com Goiás chegando a 303. Já em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, quando se esperaria que as medidas para contenção da propagação do vírus tivessem efeito sobre a circulação de outras doenças, seis UF registraram taxas acima de 100.