Congresso aprova Projeto de Lei que cria a Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas
Plenário do Senado Federal. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
Plenário do Senado Federal. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
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O Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (06) o Projeto de Lei nº 3383/2021, que estabelece a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares. A iniciativa visa atenuar os impactos da pandemia de Covid-19 na saúde mental de professores, funcionários, estudantes e familiares, e representa um passo decisivo para a construção de ambientes escolares mais saudáveis e com mecanismos estruturais para prevenir e promover a saúde mental de toda comunidade.

A proposta representa um marco significativo no avanço das políticas públicas voltadas para a saúde mental nas escolas. Segundo Dayana Rosa, especialista em relações institucionais e saúde mental do IEPS, o projeto já nasce com grande potencial de implementação. “A proposta organiza o que já existe através do fortalecimento da execução pelo Programa Saúde na Escola (PSE) em articulação com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS e Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Além disso, o PL está em consonância técnica e contextual com a Lei de Psicólogos e Assistentes Sociais nas Escolas, ainda em fase de implementação”, destaca a pesquisadora, que lembrou que a aprovação foi uma das recomendações apresentadas na cartilha 10 ações para políticas de Saúde Mental nas escolas, lançada no início do ano. 

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, em todo o mundo, entre 10 a 20% das crianças e adolescentes já sofreram problemas de saúde mental, o que influencia severamente seu desenvolvimento e educação. Além disso, metade de todos os transtornos mentais começam aos 14 anos e aproximadamente 80% dos casos não são diagnosticados ou tratados adequadamente, de acordo com o relatório Caminhos em Saúde Mental

Para Bruno Ziller, coordenador de projetos do Instituto Cactus, a atenção à saúde mental infanto-juvenil é crucial e a aprovação do PL pode ajudar a criar ambientes escolares mais acolhedores e propícios ao desenvolvimento integral dos nossos jovens. “Com a pandemia de Covid-19, a piora dos índices de saúde mental e a onda de violência nas escolas, as políticas públicas dedicadas ao tema se tornaram ainda mais urgentes”, afirma. 

Atlas da Violência 2023

O Atlas da Violência 2023, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última terça-feira (05/12), revela dados preocupantes sobre a violência nas escolas brasileiras. De acordo com o relatório, a proporção de estudantes que reportaram sofrer bullying nos últimos trinta dias passou de 30,9% em 2009 para 40,5% em 2019. O bullying pode ser considerado um dos principais motivos pelos quais a escola se transforma gradualmente em um ambiente de insegurança.

Ainda de acordo com o documento, a proporção de estudantes do ensino fundamental que deixaram de ir à escola por se sentirem inseguros cresceu de 5,4% em 2009 para 11,4% em 2019. Dado maior que a média nacional em quatorze capitais, sendo as  com maiores índices: Palmas (15,4%), Boa Vista (14,2%), Belém (14,0%), Macapá (13,4%), Recife (13,4%), Goiânia (13,3%) e Rio de Janeiro (13,0%).

A aprovação do Projeto de Lei 3.383/2021 foi de extrema importância, pois “representa uma possibilidade de redução do problema da violência nas escolas ao garantir aos integrantes da comunidade escolar o acesso à atenção psicossocial e ao prever a promoção de atendimento, ações e palestras voltadas à eliminação da violência de todos os tipos”, explica Dayana Rosa.

O Instituto Cactus e o IEPS participaram ativamente da criação do Projeto 3.383/2021, com o apoio técnico na redação do PL, e atuaram em defesa de sua aprovação. Com a aprovação no Senado, o projeto agora segue para a sanção presidencial, sendo aguardada com otimismo pelos defensores da saúde mental e da educação no Brasil.