Pessoas negras são as principais vítimas fatais de acidentes de motocicleta, revela boletim Çarê-IEPS
Trabalhador de entrega por aplicativo percorre ruas no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Trabalhador de entrega por aplicativo percorre ruas no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Pessoas negras são as principais vítimas fatais de acidentes de motocicleta, revela o Boletim Çarê-IEPS n. 2 de Saúde da População Negra. No comparativo entre janeiro de 2016 e janeiro de 2021, a taxa de mortes entre pessoas negras cresceu de 0,06 a cada 100 mil habitantes (aproximadamente 75 mortes mensais) para 0,08 (aproximadamente 102 mortes mensais). No caso de pessoas brancas a taxa mensal permaneceu 0,05 a cada 100 mil habitantes, o que representa uma variação de aproximadamente 48 mortes para 55. 

A tendência de crescimento da mortalidade entre pessoas negras coincide com o “boom” da frota de motocicletas em circulação e de habilitados no país, impulsionada por novas modalidades de emprego, como as entregas por aplicativo. 73,8% dos mototaxistas e 58,6% dos entregadores de aplicativos são pessoas negras, conforme dados do IPEA.

“Pesquisas importantes confirmam nossa percepção sobre as condições precárias de trabalho desses profissionais, não só em questões de direitos trabalhistas, mas também em termos de segurança e condições de saúde. O fato desses profissionais serem em sua maioria pessoas negras é um forte indício dos impactos da desigualdade racial na saúde. Essa é mais uma forma de violência dentre as muitas enfrentadas por negros e negras no nosso país”, afirma Rony Coelho, pesquisador da cátedra Çarê-IEPS e um dos autores do estudo.  

O pesquisador também destaca a relativa melhoria na qualidade dos dados de hospitalização no requisito raça e cor. “Observamos que há uma melhoria no registro raça/cor no Sistema de Informações Hospitalares, o que torna mais evidente as tendências de piora da taxas para pessoas negras, enquanto há um cenário de estabilidade para pessoas brancos no número de internações nos casos de acidente de motocicleta”, explica Coelho. 

Taxa anual de mortalidade por acidentes de motocicleta cresceu 66% de 2010 a 2021 entre negros e brancos

De forma geral, a taxa de mortalidade anual por acidentes de motocicleta após a internação hospitalar cresceu 66% entre 2010 e 2021. O crescimento significa um aumento de 933 óbitos para 1.569 no período. O boletim destaca que o crescimento representa aproximadamente 130 mortes por mês em 2021 ou cerca de 4 mortes diárias de motociclistas. 

A taxa anual de internações por acidentes de motocicletas aumentou em 64% no mesmo período. O crescimento de internações passou de 3,69 acidentes, a cada 10 mil habitantes, em 2010, para 6,05 em 2021. Isso significa, em números absolutos, um aumento de aproximadamente 70 mil para 129 mil internações anuais por acidentes de motocicletas em todo o Brasil.

Pessoas negras são as principais vítimas fatais de acidentes de motocicleta em 23 dos 26 estados brasileiros

O Boletim n. 2 Çarê-IEPS também revelou que, com exceção dos três estados da região Sul, e mais o estado do Amapá, em todos os demais estados as taxas de internação por acidentes de motos foi maior para negros do que para brancos. Os dados são referentes ao ano de 2021.

Pessoas negras são as principais vítimas fatais de acidentes de motocicleta, revela boletim Çarê-IEPS
Fonte: Boletim n. 2 Çarê-IEPS (elaboração do IEPS com base em dados do SINASC e do SIM)

Tocantins , Paraíba e  Mato Grosso do Sul são os estados com as maiores taxas de internações para pessoas negras, com taxa anual de 16,4, 15,2 e de 14,3, respectivamente, por 10 mil habitantes. Para pessoas brancas, as três maiores taxas estão nos estados de Mato Grosso do Sul (8,6), Santa Catarina (6,6) e São Paulo (5,4). Mato Grosso do Sul, portanto, apresenta taxas elevadas independentemente da raça/cor.

Acesse o Boletim n. 2 Çarê-IEPS Saúde da População Negra – Mortalidade e Acidentes de Motocicletas por recorte racial aqui.

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