Um quarto dos estabelecimentos de saúde, 22.577 unidades, estão situadas em um raio de até 500 metros de áreas de risco sujeitas a desastres naturais, como deslizamentos, inundações, enxurradas e erosão. Dentre esses, 2.039 estabelecimentos estão localizados dentro dessas áreas, o que pode comprometer a capacidade de resposta imediata dos serviços de saúde em momentos de emergência climática. Essa é uma das conclusões da Nota Técnica n.41 – Exposição da Rede de Saúde Brasileira a Desastres Naturais, elaborada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).
O estudo aponta que a proximidade entre estabelecimentos de saúde e áreas sujeitas a desastres cria vulnerabilidades sistêmicas, já que os danos estruturais às unidades de saúde comprometem a resposta imediata e a continuidade do atendimento à população afetada. Bruna Borges, pesquisadora do IEPS e uma das autoras da pesquisa, reforça que o sistema precisa estar preparado para responder aos efeitos de eventos climáticos extremos, que estão cada vez mais recorrentes.
“É essencial que hospitais, unidades de pronto atendimento e postos de saúde permaneçam operacionais em momentos de crise. Por isso, se localizados em áreas de risco, esses serviços precisam de planos de contingência específicos, infraestrutura adaptativa, protocolos claros de coordenação intersetorial e capacitação contínua dos profissionais”, destaca.
Serviços do SUS estão mais expostos
A pesquisa mostra que a infraestrutura do SUS está mais exposta a risco do que a rede privada. Entre os equipamentos, 24% dos vinculados ao SUS (154.723 de 641.357) estão em áreas de risco, enquanto entre os não SUS o percentual é de 18%. No caso dos leitos, a diferença também se acentua: 29% dos leitos SUS (44.088 de 153.928) estão expostos, frente a 21% na rede não SUS.
Essa distribuição reforça desigualdades já existentes, uma vez que as unidades do SUS são responsáveis majoritariamente pelo atendimento de populações em maior vulnerabilidade social, que, por sua vez, também tendem a viver em territórios mais expostos a desastres.
Territórios de risco concentram mais crianças e maiores vulnerabilidades sociais
A pesquisa aponta ainda maior concentração de crianças e adolescentes (0 a 14 anos) em áreas de risco de desastre. Esse padrão preocupa, já que situações de crise podem gerar impactos duradouros no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional dessa população.
Além disso, os territórios analisados apresentam menor renda média, pior saneamento e indicadores mais altos de vulnerabilidade social, o que pode ampliar desigualdades em contextos de emergência climática. A análise abrangeu estabelecimentos de saúde localizados nos cerca de 1.800 municípios mapeados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), o que não inclui grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.