A população negra que vive nas regiões metropolitanas brasileiras está mais exposta à fatores ambientais adversos se comparada com a população branca. As regiões com maior concentração de pessoas pretas apresentam maiores taxas de poluição, mais dias de temperaturas extremas e menor cobertura vegetal, condições que intensificam a exposição aos efeitos do calor e afetam de maneira desigual a saúde desse grupo. É isso que mostra a Nota Técnica n.42 – Racismo ambiental e saúde urbana: poluição, calor extremo e arborização nas Regiões Metropolitanas, elaborada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).
Para Lucas Falcão, pesquisador do IEPS e um dos autores da pesquisa, a combinação entre maior exposição à fatores ambientais adversos e desigualdades socioeconômicas estruturais cria um quadro de profunda desigualdade em saúde e qualidade de vida para a população negra brasileira.
“O racismo ambiental resulta de padrões sistemáticos de segregação espacial que concentram a população negra em regiões mais vulneráveis a riscos ambientais. Enfrentar essa realidade exige uma abordagem territorializada, integrada e estrutural, que inclua questões ambientais, como planejamento urbano que privilegie a cobertura vegetal, e de saúde, como o fortalecimento de políticas públicas específicas para esse grupo no SUS”, destaca.
Regiões metropolitanas: população preta é exposta a quase o triplo do limite de poluição estipulado pela OMS
Os territórios com maior proporção de população preta apresentam concentrações mais altas de material particulado fino (PM2,5). Segundo a pesquisa, nas regiões metropolitanas das capitais brasileiras, por exemplo, essa população é exposta, em média, a uma concentração de 13 µg/m3, valor 38% maior que o registrado em áreas de população majoritariamente branca. Esse nível supera em 2,6 vezes o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Territórios com mais população preta enfrentam o dobro de dias de calor extremo
O levantamento também identificou diferenças significativas na exposição ao calor. Territórios de maioria preta registram cerca de 2 dias mensais de temperaturas extremas, acima de 29ºC, enquanto áreas de maioria branca registram 1 dia nessas condições.
Territórios com maior população negra possuem menor cobertura vegetal
O padrão de desigualdade também aparece na distribuição de áreas verdes. Territórios de maioria preta têm, em média, 60 pontos percentuais a menos de vegetação densa do que territórios de maioria branca. A baixa cobertura vegetal contribui diretamente para o aumento das temperaturas e para o agravamento de ilhas de calor urbanas.
Metodologia para análise de padrões sistemáticos de racismo ambiental
A pesquisa analisou a exposição a fatores ambientais adversos nas regiões metropolitanas brasileiras entre 2010 e 2022, a partir da criação de um painel mensal de análise dos setores censitários brasileiros, com dados de composição racial do Censo Demográfico e de satélite para verificação dos fatores ambientais. O estudo mostra que as desigualdades emergem quando comparadas áreas dentro das mesmas regiões metropolitanas, mas diminuem em níveis mais desagregados, dentro de bairros ou de um mesmo município.