Entre 2010 e 2020, os estados da região Norte e Nordeste apresentaram os piores índices do país em 14 indicadores de saúde, como mostra a nota técnica “A Saúde dos Estados em Perspectiva Comparada: Uma Análise dos Indicadores Estaduais do Portal IEPS Data”, assinada por pesquisadores do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). Os indicadores foram divididos em quatro blocos temáticas: atenção básica, recursos, mortalidade e morbidade e gastos. De acordo com a pesquisa, os estados do Amapá, Pará e Maranhão estão, respectivamente, na última posição dos blocos analisados, sendo o Maranhão o último colocado nas duas últimas categorias.
Os dados foram obtidos na plataforma IEPS Data, na seção Panorama da Saúde Local, com objetivo de mapear e colocar em perspectiva comparada a situação da saúde nos diferentes estados brasileiros. “O IEPS Data é uma ferramenta muito útil para mapear e construir análises comparativas. Nós conseguimos visualizar os indicadores de saúde por municípios e regiões de saúde, além da possibilidade de analisar esses indicadores de forma resumida, com foco em dimensões-chaves da saúde através do Panorama de Saúde Local. Nesta nota técnica utilizamos o Panorama para extrair dados e é um ótimo exemplo do potencial do IEPS Data para análises comparativas do cenário da saúde brasileira”, explica Matías Mrejen, pesquisador do IEPS e um dos autores da nota técnica.
A metodologia da pesquisa envolveu a seleção de indicadores que permitem uma análise mais ampla da saúde e estratégias de padronização dos valores de análise. “Existe uma grande quantidade de indicadores disponíveis no IEPS Data e nem sempre é fácil compará-los, já que eles podem estar em escalas diferentes. Nesta pesquisa, o primeiro passo foi tornar os indicadores comparáveis. Dessa forma, consolidamos vários indicadores e sintetizamos o desempenho de cada estado em cada um dos quatro blocos temáticos. Isso, por sua vez, permite ordenar os estados de acordo com os seus desempenhos nos blocos temáticos. Esse ordenamento facilita a investigação detalhada do que se relaciona com o desempenho de saúde de um estado.”, explica Leonardo Rosa, pesquisador do IEPS e também um dos autores do estudo.
Desigualdades regionais marcam o sistema de saúde brasileiro
Na Atenção Básica, os piores índices estão na região Norte. Com exceção do estado do Tocantins, cinco estados estão entre os sete últimos colocados. Os números negativos podem ser atribuídos às baixas coberturas vacinais de Poliomielite e ao baixo percentual de nascidos vivos com pré-natal considerado adequado. Fora da região Norte, Maranhão e Rio de Janeiro completam as últimas posições.
No bloco de recursos, o Distrito Federal e as regiões Sul e Sudeste (com exceção de Minas Gerais) apresentam os melhores indicadores. Segundo a nota técnica, a maior disponibilidade de recursos humanos (médicos e enfermeiros) e de leitos não vinculados ao SUS, em relação ao tamanho da população, garantem a melhor colocação das regiões e do Distrito Federal. O padrão é o mesmo no bloco de Mortalidade e Morbidade, com exceção do Rio de Janeiro, que apresenta pior desempenho em razão da elevada taxa de mortalidade por causas evitáveis, ajustada pela estrutura etária da população.
Para Matías Mrejen, os resultados reforçam padrões de desigualdade regionais já conhecidos e a necessidade de se identificar as causas dos problemas regionais. O pesquisador também enfatiza a possibilidade de uma análise temporal das permanências e evoluções no sistema de saúde. “Os resultados também permitem caracterizar a evolução entre 2010 e 2020 nos estados em diferentes dimensões da saúde. Tocantins e Rio Grande do Sul, por exemplo, foram os dois estados que apresentaram a evolução comparativa mais favorável na Atenção Básica, enquanto Goiás e o Rio de Janeiro foram os estados com a evolução menos favorável. Na saúde, analisar os diferentes indicadores e caracterizar essas tendências é fundamental para identificar quais dimensões demandam maior atenção do Poder Público”, enfatiza Mrejen.