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O economista e fundador do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) Arminio Fraga foi o primeiro palestrante do terceiro dia do “Summit Saúde Brasil 2021”, nesta quarta, 20. O evento é promovido pelo jornal “O Estado de S.Paulo” e reúne, até o dia 22 de outubro, especialistas para diagnosticar o futuro da saúde, que teve avanços e transformações sem precedentes durante a pandemia de COVID-19.

Arminio apresentou dados que comparam os investimentos em saúde de diferentes países e fez uma análise entre Brasil e Reino Unido, que têm sistemas semelhantes, públicos, gratuitos e universais: o SUS (Sistema Único de Saúde) e o NHS (National Health System) respectivamente. Enquanto o Brasil aplica anualmente 4% do Produto Interno Bruto (PIB) na saúde pública, o Reino Unido investe 8%, detalhou o economista.

O fundador do IEPS também faz outro recorte, comparando os recursos destinados à saúde pública e privada no Brasil. Se o SUS, que atende cerca de 75% da população, fica com 4% do PIB em investimentos, a cobertura privada faz aportes equivalentes a 5% do PIB, atendendo uma parcela bem menor de brasileiros, em torno de 25%.

“Essa divisão é praticamente única no mundo e mostra o quanto o SUS é subfinanciado. O gasto em saúde na verdade é um investimento, pois o setor gera renda e a boa saúde aumenta a produtividade da economia. Pessoas com saúde, além do bem-estar, são mais produtivas”, disse.

Com base em estudos do IEPS, Arminio mostrou que, nos próximos 30 anos, o investimento em saúde no Brasil deve crescer devido ao envelhecimento da população e ao aumento da renda. “O Brasil gasta bastante como um ‘país de renda média’; um terço do PIB. Mas falta clareza em relação ao destino do nosso dinheiro. Gastamos muito com subsídios que não fazem o menor sentido. Precisamos fazer uma grande faxina. A saúde pública ficou para trás, apesar dos enormes esforços dos profissionais da área”.

Sobre os desafios da saúde pública do Brasil na ponta, Arminio afirma que os problemas de antes da pandemia continuam, como outras doenças infecciosas além da COVID-19 e a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis. No entanto, o economista vê com otimismo as inovações da medicina em meio ao combate contra o coronavírus:

“O Brasil é grande, as demandas vão crescendo e o País não consegue chegar a todos ao lugares. A telemedicina é um tema ‘quente’ e pode ajudar nesse processo, assim como a inteligência artificial na reunião de dados e gestão, desde que, claro, de forma não invasiva e não autoritária”.

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