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INTRODUÇÃO – O primeiro boletim da série Saúde da População Negra tem por objetivo analisar as intercorrências obstétricas graves mais recorrentes bem como as causas de mortes maternas mais frequentes, segundo raça/cor. As intercorrências obstétricas graves são complicações durante o estado gravídico puerperal com “condições potencialmente ameaçadoras à vida”(da Saúde 2011). As principais complicações representam quase 75% de todas as mortes maternas (OPAS 2018). Elas são: hipertensão (pré-eclâmpsia e eclâmpsia); hemorragias graves (principalmente após o parto); infecções e sepse (normalmente depois do parto); complicações no parto; e, abortos inseguros. A mortalidade materna é o óbito que ocorre durante a gestação ou dentro de 42 dias após o término desta ou por medidas adotadas em relação à gravidez, exceto aqueles devidos a causas acidentais ou incidentais. Tanto as intercorrências obstétricas graves quanto as mortes maternas são classificadas como desfechos maternos graves (OPAS 2018).

A morte materna é uma “tragédia evitável” em 92% dos casos (Brasil 2009) e, de modo geral, “as soluções de cuidados de saúde para prevenir ou administrar complicações são bem conhecidas”, segundo a OPAS (2018). Nesse sentido, é emblemático que 99% de todas as mortes maternas ocorrem em países em desenvolvimento. No Brasil, persistem as desigualdades raciais no acesso ao pré-natal. Com a crise sanitária provocada pelo coronavírus, a proporção de gestações de nascidos vivos com o número de consultas adequado caiu 0,54% para mulheres brancas, em relação ao ano anterior, para as negras essa queda foi mais que o dobro, de 1,44% (Coelho et al. 2022).

A mortalidade materna na pandemia tem sido um fator de preocupação, conforme o Boletim Observatório Covid da Fiocruz (2021), pois atingiu “níveis extraordinariamente elevados”. Com caráter informativo, este primeiro Boletim Çarê-IEPS, de uma série a ser publicada anualmente, apresenta dados sobre os desfechos maternos graves com a finalidade de suscitar discussões, aprofundamentos das análises e, principalmente, realizar o monitoramento dessas condições, especialmente dados os recentes impactos da pandemia. A metodologia utilizada neste boletim está detalhada em apêndice ao final do documento.

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Como citar

Coelho, R., & Campos, G. (2022). Saúde da População Negra: Saúde Materna da Mulher Negra. Boletim Çarê-IEPS n. 1. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos para Políticas de Saúde. https://ieps.org.br/boletim-care-ieps-01-2022/.