São alarmantes os números da violência no Brasil, especialmente contra a população negra. Os dados sobre saúde e violência com segmentação étnico-racial eram pouco conhecidos até pouco mais de uma década atrás, especialmente pela inexistência de fontes de informação ou falta de divulgação. Mais recentemente, publicações como o Atlas da Violência, o Monitor da Violência ou o Relatório Pele Alvo – A bala não erra o negro têm mostrado estatísticas desfavoráveis e persistentes contra pessoas pretas e pardas.
Para além das fontes anteriormente citadas, evidências acadêmicas pautam o reconhecimento das desigualdades estruturais e históricas e revelam uma maior vulnerabilidade da população negra às agressões, manifestando-se em indicadores de saúde desfavoráveis e ressaltando a necessidade premente de políticas públicas e intervenções em saúde direcionadas (Leite et al., 2017). Diversas pesquisas como as de Batista e Barros (2017), Santos et al. (2020) e Anunciação et al. (2022) indicam que as disparidades enfrentadas pela população negra em contextos de violência e saúde são profundas e multifacetadas, demandando uma resposta que transcende a assistência à saúde e abarca educação, habitação, segurança pública e justiça social, visando à construção de uma sociedade genuinamente equitativa.
Face ao exposto, com caráter informativo, apresentamos esta nova edição do Boletim Çarê-IEPS, o primeiro desta temática de uma série a ser publicada anualmente. Metodologicamente, utilizamos as categorias do grupo “Agressões”, conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10, códigos X85-Y09), e além de dados do SIM e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH).