O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) participou da International Conference on Primary Health Care 2025 (ICPHC 2025), realizada entre os dias 6 e 9 de outubro em Addis Ababa, na Etiópia. O evento teve como objetivo disseminar evidências e aprendizados sobre a transformação digital na atenção primária, conectando experiências nacionais a um diálogo internacional sobre inovação, governança e equidade em sistemas universais, com foco em países de baixa renda.
O encontro integrou as ações da parceria entre o IEPS e o projeto Digital Health Exemplars (DHE), uma iniciativa global coordenada pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e pelo Center for Digital Health and Implementation Science (CDHI), com apoio do programa Exemplars in Global Health (EGH) e da Bill & Melinda Gates Foundation. Estiveram presentes representantes de governos, organizações multilaterais, pesquisadores e instituições da sociedade civil de diversos países, como Brasil, Finlândia, Gana, Índia e Ruanda.

Maria Letícia Machado, coordenadora de políticas públicas do IEPS, durante International Conference on Primary Health Care 2025. Foto: Divulgação/ICPHC
Maria Letícia Machado, coordenadora de políticas públicas do IEPS, destaca que a participação na conferência abriu espaço para compartilhar as experiências brasileiras na saúde digital, evidenciando a potência do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Compartilhamos as evidências e aprendizados acumulados ao longo de dois anos de dedicação ao projeto DHE, dialogando sobre transformação digital, governança de dados e equidade em sistemas universais de saúde. A ideia de um sistema como o SUS, integral, universal e gratuito, arrebatou os participantes, e foi emocionante perceber como o Brasil é referência na garantia ao acesso à saúde para sua população”, afirma.
Lições do SUS sobre Saúde Digital
Durante o painel Digital Health Exemplars Workshop: Lessons Learned from Five Countries, Maria Letícia Machado e Luísa Arantes, consultora de pesquisa do IEPS, apresentaram as contribuições do estudo de caso brasileiro, conduzido pelo IEPS no âmbito do DHE.
O estudo examinou os principais marcos institucionais e estratégicos da transformação digital no SUS, como a criação da Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI), o programa Conecte SUS e o Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital, além dos avanços regulatórios recentes, como o decreto que tornou obrigatória a adesão de prestadores públicos e privados à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e a exigência de avaliações de impacto à proteção de dados para assegurar transparência e segurança no uso das informações.
Durante a apresentação, a equipe destacou, por exemplo, a experiência do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), e ressaltou como a combinação entre incentivos federais, padronização técnica e interoperabilidade pode favorecer a adoção de sistemas de informação em saúde em larga escala, alinhando autonomia local e coordenação nacional para fortalecer o uso de dados em saúde.

Luísa Arantes, consultora de pesquisa do IEPS, durante International Conference on Primary Health Care 2025. Foto: Divulgação/ICPHC
Também foi debatido o papel de fatores estruturantes, como governança, financiamento, conectividade e capacitação das equipes, para viabilizar a transformação digital, além da importância de soluções centradas nas pessoas e estratégias práticas para superar desafios de implementação em distintos níveis de maturidade digital.
Escalabilidade de ações na atenção primária
O IEPS também integrou a mesa From Islands to Networks: Scaling Interoperable Digital Health for Stronger Primary Health Care, que abordou como a interoperabilidade, a governança ética e as parcerias multissetoriais impulsionam ecossistemas digitais sustentáveis e contribuem para o avanço rumo à Cobertura Universal de Saúde.

Maria Letícia Machado, coordenadora de políticas públicas do IEPS, durante International Conference on Primary Health Care 2025. Foto: Divulgação/ICPHC
Maria Letícia Machado apresentou a trajetória brasileira na RNDS e destacou que o país vive hoje uma nova fase da transformação digital, marcada pela consolidação de plataformas nacionais e pelo desafio de promover uso qualificado e equitativo dos dados:
“O Brasil vem consolidando plataformas nacionais em escala nacional e o foco agora deve ser garantir que essas ferramentas sejam utilizadas de forma a promover equidade e fortalecer o sistema público de saúde”, destacou.
Digital Health Exemplars
O projeto Digital Health Exemplars (DHE), é fruto do programa Exemplars in Global Health (EGH), e tem como objetivo gerar aprendizados práticos sobre como países utilizam tecnologias digitais em saúde para aprimorar seus sistemas de atenção primária e promover melhores resultados em saúde.
A iniciativa adota três linhas de atuação: 1. Desenvolvimento de estudos de caso sobre países exemplares; 2. Aprofundamento temático em áreas-chave da transformação digital em saúde; e 3. Promoção de aprendizado entre pares, facilitando a tradução de evidências em prática.
O DHE é conduzido por um consórcio internacional liderado pelo Center for Global Digital Health Innovation, da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, em parceria com o Center for Digital Health and Implementation Science da University of Gondar, Africa Quantitative Sciences (Ruanda), University of Ghana, Indian Institute of Health Management Research e o IEPS, no Brasil, responsável pelo estudo de caso nacional. O projeto conta ainda com a colaboração do World Bank Group, por meio da Joint Learning Network for Universal Health Coverage’s Digital Health Collaborative, e do McKinsey Health Institute, responsável por análises temáticas aprofundadas.
O programa Exemplars in Global Health (EGH) é uma coalizão global de pesquisadores, especialistas, financiadores e gestores públicos dedicada a identificar experiências bem-sucedidas em saúde global, analisar os fatores que as explicam e disseminar lições que possam ser adaptadas em outros contextos. O programa faz parte da Global Development Division da Bill & Melinda Gates Foundation.