A Nota Técnica n. 40 – Acesso à Saúde na Amazônia Legal: Distâncias e Desafios Estruturais, lançada nesta quinta-feira (13) pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), revela grandes desigualdades de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) na Amazônia Legal em comparação ao restante do país. A pesquisa mostra, por exemplo, que o tempo médio de viagem para acesso à quimioterapia na região é aproximadamente 7 vezes maior do que no restante do país, e que a densidade das equipes de atenção básica chega a ser 8 vezes menor na Amazônia Legal.
Lucas Falcão, pesquisador do IEPS e um dos autores da pesquisa, destaca que a combinação entre longas distâncias e infraestrutura limitada impacta diretamente o acesso aos serviços de saúde, tanto na atenção básica quanto na média e alta complexidade. “A extensão territorial e as características singulares da Amazônia Legal dificultam o acesso à saúde, criando barreiras ao deslocamento da população e à chegada de equipes e insumos. Superar esses desafios exige que o SUS valorize e institucionalize soluções locais, como as Unidades Básicas de Saúde Fluviais, adaptadas às especificidades regionais.”, explica.
Acesso ao tratamento de câncer pode levar 5 dias
A pesquisa mostra que o tempo médio de deslocamento para acesso à quimioterapia na Amazônia Legal é de 4,7 horas, enquanto no restante do país é de aproximadamente 0,3 horas. Em alguns casos, o deslocamento pode durar até 120 horas e, em outros, dependendo da localização do paciente dentro do município, o tempo até a unidade de saúde de alta complexidade pode ser ainda maior.
O padrão se repete para outros serviços de maior complexidade. Para acessar um leito de UTI, o deslocamento médio na Amazônia Legal é de 3,3 horas, e para diálise, 3,5 horas, enquanto no restante do país esses tempos são de 0,3 e 0,7 hora, respectivamente.
Mesmo com alta cobertura, dispersão de equipes dificulta acesso à atenção básica
A Amazônia Legal é coberta, em média, por 1,7 equipes de Atenção Básica por 1.000 km², enquanto no restante do país essa média é de 15,1 equipes. A distribuição de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) segue o mesmo padrão: são 10,7 agentes por 1.000 km² na região, frente a 66,3 agentes no restante do Brasil.
Segundo o estudo, a combinação entre dispersão geográfica e características singulares do território impõe desafios logísticos relevantes para a oferta de serviços de atenção básica. Cada equipe precisa cobrir uma vasta área, muitas vezes enfrentando obstáculos como dificuldade de transporte, rotatividade de profissionais, falta de recursos para atendimentos de emergência e escassez de insumos.
Esses desafios de infraestrutura também se impõem sobre o trabalho dos profissionais de saúde da região. Excluindo as unidades localizadas nas capitais dos estados, o estudo mostra que apenas 49% das Unidades Básicas de Saúde da Amazônia Legal contam com conexão à internet, enquanto fora da região essa proporção é de 76%. Além disso, 19% das UBS na Amazônia possuem geladeiras exclusivas para medicamentos em condições de uso, enquanto fora da região essa média chega a 32%.
Ainda assim, apesar desses entraves estruturais e logísticos, a cobertura da Atenção Básica na Amazônia Legal se mantém elevada, com indicadores muitas vezes superiores aos do restante do país. No triênio 2022–2024, a cobertura da Estratégia Saúde da Família, da Atenção Básica e dos Agentes Comunitários de Saúde foi de 78,4%, 84,2% e 81,3%, respectivamente. No restante do país, essas coberturas foram de 69,4%, 82,5% e 63,6% no mesmo período.
Dificuldade de deslocamento é entrave para cuidado de doenças crônicas
A pesquisa também analisou a busca e o acesso de pessoas com hipertensão e diabetes para atendimento médico na Amazônia Legal. 11,2% das pessoas com hipertensão relatam a distância ou dificuldade de transporte como motivo para não ir ao médico, contra 4,1% no restante do país. Entre as pessoas com diabetes, o padrão é semelhante: 11,1% relatam não procurar atendimento por acharem desnecessário ou devido a problemas de transporte e distância, contra 4,7% no restante do país.
Amazônia 2030
A Nota Técnica n.40 integra o estudo “A Saúde na Amazônia Legal: Evolução Recente e Desafios em Perspectiva Comparada”, realizado pelo IEPS em parceria com o projeto Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia brasileira.