Brasileiros lidam, desde março do ano passado, com a perda repentina e simultânea de familiares, amigos e empregos. O debate sobre bem-estar emocional ganha ainda maior relevância. Mas depressão e outros transtornos já configuravam, mesmo antes da Covid-19, uma crise de saúde no Brasil. Antes mesmo da pandemia, a depressão já afetava 10,8% da população adulta do País. Em 2013, eram 7,9%; crescimento de 36,7%. A conclusão é de um estudo inédito do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), liderado pelo pesquisador em economia da saúde Matías Mrejen e co-autorado pelo diretor de pesquisa do Instituto, Rudi Rocha.
Os pesquisadores do IEPS também analisaram as desigualdades na prevalência da depressão e no acesso a tratamentos. Alguns grupos da sociedade sofrem mais com o transtorno mental, assim como encontram mais barreiras na hora de buscar ajuda profissional. A pesquisa recomenda que o bem-estar mental deve ser prioridade nas agendas de saúde pública no Brasil e que cresça a oferta de profissionais de saúde mental, sobretudo em regiões com maior escassez de serviços, de modo a mitigar a lacuna de tratamento e as desigualdades existentes.
Alguns grupos da sociedade sofrem mais com o transtorno mental, assim como encontram mais barreiras na hora de buscar ajuda profissional.
A incidência da depressão em mulheres foi mais do que o dobro do registrado em homens: 15% contra 6,1%. Na análise por faixas etárias, o maior crescimento foi entre os mais jovens. Entre 18 e 24 anos de idade, a prevalência quase dobrou, de 5,6% em 2013 para 11,1% em 2019. O cenário não foi diferente em relação à renda familiar.
O estudo separou a população em dois grupos: “indivíduos brancos” e “indivíduos negros”, agrupando aqueles que se denominam “pretos” ou “pardos”. Entre os indivíduos pretos ou pardos e com sintomas de depressão, 74% não realizam qualquer tratamento, enquanto esse percentual cai para 67,2% entre os brancos.
Houve também a divulgação do Olhar IEPS n. 3, policy brief do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, que abre a agenda de saúde pública do Instituto voltada para o bem-estar mental. A pesquisa termina com a recomendação de que o bem-estar mental deve ser prioridade nas agendas de saúde pública no Brasil e que cresça a oferta de profissionais de saúde mental, sobretudo em regiões com maior escassez de serviços, de modo a mitigar a lacuna de tratamento e as desigualdades existentes.
Coordenador de Atenção Psicossocial da Secretaria Estadual de Saúde do RJ
Gerente Geral Executiva do Instituto Cactus
Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN
Pesquisa de Economia da Saúde do IEPS
Professor da EAESP-FGV e Diretor de Pesquisa do IEPS