Defensora da saúde pública e apaixonada por reformas sistêmicas da saúde que elevem as vozes e histórias de comunidades marginalizadas. É assim que Medha Iyer se apresenta ao descrever sua trajetória profissional na área da saúde. Iyer foi pesquisadora visitante do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) entre junho e agosto de 2023 e é mestranda em Ciências de Saúde Global e Populações na Escola de Saúde Pública T.H. Chan da Universidade de Harvard.
Na mais nova edição do IEPS Entrevista, a pesquisadora contou sobre sua rotina no IEPS e seu trabalho no projeto Qualifica Atenção Básica. Iyer atuou em diálogo com a equipe do Laboratório de Políticas de Saúde (LPS), na sede do IEPS no Rio de Janeiro e no Recife.
Fascinada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelo clima comunitário do Brasil, Iyer dá dicas importantes para futuros pesquisadores e destaca a boa convivência com os brasileiros. “Todos são muito acolhedores, e eu sempre senti que tinha uma família no país”, diz.
Confira a entrevista completa:
Por que você escolheu o Brasil como destino? Você já tinha alguma conexão prévia com o país?
Durante o primeiro semestre de 2023, fiz um curso em Harvard lecionado pelo Miguel Lago, diretor executivo do IEPS. O curso era focado em sistemas de saúde universais, como o SUS, e fiquei fascinada pelo engajamento dos pacientes, a participação social e o aproveitamento de recursos e tecnologias nesses sistemas. Eu não tinha nenhuma conexão prévia com o Brasil, mas, depois do curso, soube que queria aprender mais sobre o tema em um país que é campeão no acesso à saúde gratuita.
Qual foi o processo para se tornar uma pesquisadora visitantes no IEPS?
Um dos requisitos do meu mestrado é fazer um estágio de verão voltado para pesquisa científica. Depois de conhecer o Miguel Lago e perceber que minha pesquisa combinaria com o IEPS, iniciei um processo para solicitar bolsas de estudos que poderiam financiar minha pesquisa e minha estadia no Brasil. Isso levou quase quatro meses mas, no final, consegui apoio de dois fundos de financiamento.
Em qual projeto do IEPS você trabalhou durante o estágio?
Colaborei de perto com a equipe do IEPS no projeto Recife Monitora, que é uma das frentes de trabalho do programa Qualifica Atenção Básica. Antes de iniciar as atividades, me reuni com Arthur Aguilar, diretor de políticas públicas do IEPS, para definirmos o escopo do projeto e entendermos as considerações éticas ao realizar uma pesquisa com atores internacionais. Após a aprovação no comitê de ética, estruturamos meus objetivos de pesquisa e consolidamos a ideia de um projeto que fosse benéfico para todas as partes envolvidas, focando na participação das comunidades impactadas pela pesquisa, nesse caso a população do Recife, em Pernambuco.
Quais atividades você realizou trabalhando no Recife Monitora?
A primeira etapa da minha pesquisa foi fazer uma revisão bibliográfica. Consultei recursos de pesquisa em Harvard para produzir guias de entrevista e formulários de consentimento e, em seguida, revisei esses materiais internamente com a equipe do IEPS. Depois, conduzi entrevistas com partes interessadas no Rio de Janeiro e em Recife. Viajei para Recife por uma semana para me encontrar com autoridades municipais e equipes de saúde da família nas unidades de saúde da família. Atualmente, estou conduzindo análises qualitativas para produzir um relatório interno para o IEPS.
Como as tarefas do seu estágio no IEPS se relacionam com a pesquisa que você está conduzindo em sua universidade?
A minha atuação no IEPS se relaciona diretamente com o meu trabalho no mestrado, dedicado a analisar políticas que fortaleçam a participação popular na saúde. Sou apaixonada pela implementação de programas que recebem inputs tanto de gestores quanto dos próprios pacientes, como é feito no Recife Monitora, por exemplo. Mesmo após o estágio, continuarei investigando soluções que alavanquem a comunicação, educação e tecnologia para melhorar os resultados de saúde, pois sou uma defensora da saúde pública.
Como era seu dia-a-dia e rotina no IEPS?
Cada dia era muito diferente para mim. Na maioria das vezes eu ia ao escritório às segundas e quartas-feiras e trabalhava remotamente durante a semana, tendo reuniões sobre o Qualifica Atenção Básica. Às sextas-feiras, participava de atividades de engajamento comunitário do Programa SIP de Harvard, associado ao Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos. Nos dias em que ia ao escritório, costumava almoçar com meus colegas do IEPS e conseguia viver de perto a amizade e o estilo de vida comunitário do Brasil. Todos são muito calorosos e acolhedores, e eu sempre senti que tinha uma família no país.
Como foi a experiência pessoal de estar no Brasil durante o intercâmbio e quais conselhos você daria a outros pesquisadores que estão considerando um estágio visitante no IEPS?
Viver em um país diferente tem seus benefícios e desafios. Estar longe de casa foi difícil, houveram dias em que desejei ter refeições caseiras ou poder abraçar meus amigos e familiares nos Estados Unidos. Mesmo assim, aprendi muito vivendo no Brasil, conhecendo a bela cultura do país e morando sozinha pela primeira vez. A barreira do idioma foi difícil, já que eu não falava português antes de viajar. Recomendo que os futuros visitantes conheçam mais o português antes de virem. É importante aprender o idioma, isso demonstra respeito e permite conversas autênticas sem nada se perder na tradução. O Brasil é um país lindo, então reserve um tempo para viajar entre as diferentes regiões e mergulhar na cultura.