O número de profissionais de saúde por habitante no Brasil cresceu cerca de 70% entre 2010 e 2023, passando de aproximadamente 7,1 para 11,9 profissionais por mil habitantes. Apesar desse crescimento, mais profissionais têm optado por atuar no setor privado. Nos últimos 14 anos, a proporção de vínculos de profissionais de saúde com o SUS passou de 85% para 80%, uma redução de cinco pontos percentuais. Os dados são do Boletim Radar+SUS n. 5/2025 – Tendências na provisão e distribuição na oferta de profissionais de saúde no Brasil, lançado nesta sexta-feira (04) e elaborado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), em parceria com a Umane.
O estudo mostra que, entre 2010 e 2023, os vínculos de profissionais de saúde cresceram 78%, passando de 1,3 milhão para 2,4 milhões, enquanto o número de vínculos que atendem no SUS cresceu em ritmo menor, aumentando 67%. A pesquisa analisou a distribuição de vínculos dos profissionais que integram a equipe mínima multiprofissional da Atenção Primária: médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, psicólogos, nutricionistas e agentes comunitários de saúde (ACS), além da distribuição de dentistas, em razão da retomada do Programa Brasil Sorridente.

Taxa de oferta de profissionais de saúde que atendem no SUS e total, por mil habitantes, Brasil (2010-2023). Fonte: Boletim Radar Mais SUS n.5 com dados do CNES e Projeções Populacionais/IBGE.
Para Julia Pereira, gerente de relações institucionais do IEPS, o cenário descrito no estudo revela um alerta para os rumos da saúde pública no país.
“O número de profissionais de saúde no Brasil aumentou nos últimos anos, mas isso não tem se refletido de forma proporcional no SUS. Houve queda na concentração de profissionais que atuam no sistema público – que atende a toda a população brasileira. Muitos têm optado exclusivamente pelo setor privado, em detrimento do setor público, ou abandonando a atuação simultânea nos dois setores. Isso aprofunda desigualdades e dificulta o acesso da população. Formar mais profissionais não garante atendimento público se não houver políticas para atraí-los e fixá-los no SUS”, afirma.
Em 2023, cerca de 80% dos municípios do Norte e Nordeste tinham menos de um médico por mil habitantes atuando no SUS
O boletim destaca a desigualdade na distribuição dos profissionais da saúde entre regiões. Em 2023, dos 450 municípios existentes na região Norte e 1.794 municípios da região Nordeste, 83% e 81%, respectivamente, não contavam com um ou possuíam menos de um médico por mil habitantes. Em contrapartida, dos 175 municípios que possuíam 3 ou mais médicos por mil habitantes atuando no SUS, 146, ou 83%, estavam localizados nas regiões Sudeste e Sul.
As regiões Norte e Nordeste possuem maior concentração de Técnicos e Auxiliares de Enfermagem e ACS. No caso dos ACS, 53% dos municípios do Norte possuem mais de três agentes por mil habitantes, enquanto nos municípios do Sudeste essa proporção é de somente 10,5%.
Os vínculos dos profissionais de enfermagem representam 51% da força de trabalho em saúde; concentração no SUS é alta
Os profissionais de enfermagem, de nível médio e superior, são responsáveis por mais da metade, 51%, da força de trabalho em saúde no país. Desse total, 37,8% são de nível médio, distribuídos entre auxiliares e técnicos de enfermagem, enquanto 13,2% são de nível superior.
Entre os profissionais de nível superior, houve um aumento de 173% no número de vínculos nos últimos 14 anos. Em 2010, a taxa era de 0,69 enfermeiros por mil habitantes, passando para 1,87 em 2023. A presença desses profissionais no SUS também é considerável, e passou de 0,63 para 1,62 por mil habitantes no mesmo período.
Embora a maioria dos enfermeiros atue no SUS, com uma concentração média em torno de 88% nos últimos anos, o boletim destaca uma tendência de queda nessa proporção. Entre 2010 e 2023, a participação dos enfermeiros que atuam no sistema público recuou cerca de seis pontos percentuais, passando de 91,8% para 86,2%.

Taxa de enfermeiros que atendem no SUS e total, por mil habitantes, 2010-2023. Fonte: Boletim Radar Mais SUS n.5 com dados do CNES.
Dentistas: categoria tem baixo crescimento e apenas 38% de vínculos profissionais no SUS
Diferente das demais categorias analisadas, os dentistas registraram a menor taxa de crescimento entre 2010 e 2023, com uma variação na taxa de vínculos de profissionais por habitante de 5,38 para 7,83 por 10 mil habitantes, uma expansão de 45%. A atuação desses profissionais no SUS é a menor entre as profissionais analisadas pela pesquisa. Em 2023, menos da metade, 44%, dos dentistas possuíam vínculos no sistema público de saúde.
“Diante do relançamento do Programa Brasil Sorridente em 2023, que tem entre suas metas ampliar a cobertura de saúde bucal no SUS e oferecer tratamento odontológico especializado à população, a queda na participação de dentistas no sistema público é um fator que precisa ser considerado”, destaca Julia Pereira.
Psicólogos: profissionais estão mais concentrados no sul e sudeste
Apesar do crescimento expressivo da demanda por saúde mental e do aumento de 160% na oferta de psicólogos no Brasil, de 1,82 para 4,73 profissionais por 10 mil habitantes entre 2010 e 2023, a presença desses profissionais no SUS não acompanhou o mesmo ritmo. Segundo o Boletim, a concentração de psicólogos no sistema público caiu de 66,8% para 53,1% no período.
A distribuição regional segue o padrão visto em outras especialidades, com concentração nas regiões Sul e Sudeste. Em 2023, o Sul registrou a maior taxa de psicólogos, com 6 profissionais para cada dez mil habitantes, enquanto a região Norte teve a menor oferta, com 2,5 profissionais para cada dez mil habitantes.
No recorte municipal, quase metade dos municípios brasileiros, 47%, conta com um ou dois psicólogos atuantes no SUS por 10 mil habitantes. Por outro lado, cerca de 808 municípios,14%, não possuem nenhum ou contam com menos de um psicólogo nesse parâmetro. Norte e Nordeste possuem 40% e 30% de seus municípios nesse contexto, respectivamente.