O diretor de pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), Rudi Rocha, coordenou um dos mais completos mapeamentos sobre a saúde da população da Amazônia. Ao analisar indicadores de saúde populacional, de disponibilidade de recursos, de profissionais e o acesso a serviços, o pesquisador concluiu que região estava ficando para trás:

“Detectamos que a melhora na expectativa de vida da Amazônia está em ritmo mais lento, e a distância da região para o resto do país está aumentando”, afirmou. 

Rocha fez o alerta no evento “Saúde na Amazônia: Sobre Novas Evidências e Desafios de Gestão” na última quarta-feira (2). O webinário faz parte da série “Futuros Amazônicos”, promovida pelo Brazil LAB, da Universidade Princeton, e também contou com a participação da professora de demografia da Universidade Harvard e integrante do conselho deliberativo do IEPS Márcia Castro. O diretor de pesquisa do IEPS coordenou o estudo “A Saúde na Amazônia Legal: Evolução Recente e Desafios em Perspectiva Comparada”, o Estudo Institucional nº4 do IEPS. Outros dois relatórios do projeto serão lançados em breve.

Soluções de saúde na Amazônia podem ser chave para o mundo, aponta diretor do IEPS
Evento do Brazil LAB, da Universiade de Princeton debateu saúde na Amazônia. Imagem: reprodução de internet.

Os resultados mostram que, enquanto a expectativa de vida no Brasil aumentou, em média, 2,64 anos entre 2010 e 2019, somente dois dos nove estados da Amazônia Legal tiveram crescimento superior no período (Roraima e Acre). Mesmo assim, todos os estados da região ainda tinham a expectativa de vida inferior à média nacional em 2019 (76,5 anos).

Rocha afirma que a menor expectativa de vida está relacionada ao quadro de mortalidade por doenças crônicas, principalmente entre idosos, mas outras faixas etárias são afetadas:

“Parte dessa lacuna é explicada pela mortalidade entre os idosos, especificamente por doenças crônicas, mas nós ainda encontramos alta mortalidade entre adultos jovens, principalmente por causas externas, como violência e acidentes, e entre crianças, por doenças infecciosas”.

Ainda de acordo com o estudo, a distância percorrida por moradores da Amazônia até o leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) mais próximo é de duas a três vezes maior do que no restante do Brasil, em média. 

Para a professora de demografia da Universidade Harvard e especialista em saúde pública Márcia Castro, o quadro da Amazônia é típico de uma “sindemia”: “Não temos epidemias de diferentes doenças, temos sindemias, ou seja, um conjunto de características ambientais, econômicas e sociais vulneráveis que criam condições para várias doenças afetarem de forma muito pior a população local e de modo simultâneo”, disse.  

Soluções coordenadas

Se a situação da saúde da Amazônia é causada por gargalos que vão além da saúde, Castro diz que a resposta, por sua vez, precisa ser ampla e diferente das adotadas no passado: “Apenas intervenções na saúde não vão resolver; é enxugar gelo. Como podemos realmente incorporar as vozes locais nessas respostas? Creio que o papel das comunidades indígenas é particularmente importante”, afirmou. “Nós simplesmente ignoramos o conhecimento deles (indígenas). Precisamos mudar essa visão de que, para desenvolver a Amazônia, é preciso se livrar da floresta, remover todos os recursos”, completou a pesquisadora.

O estudo reuniu dados até 2019. Com a Covid-19 o desafio se tornou mais complexo: em 2020, a expectativa de vida caiu no Brasil devido à pandemia. Se o país perdeu 1,3 ano na expectativa de vida, o Amazonas, cuja capital, Manaus, ficou marcada no ano passado pela falta de oxigênio nos hospitais, perdeu 3,5 anos.

“A atenção primária e a cobertura do programa Saúde da Família são muito importantes em regiões remotas da Amazônia. Há necessidade de coordenação dos esforços entre os municípios, já que observamos uma governança bastante fragmentada e enormes desafios logísticos”, afirma Rocha.