Quem for eleito para liderar a política municipal em 2025 deve trabalhar para aprimorar o Sistema Único de Saúde (SUS) nos municípios, ouvindo as demandas da população e trabalhando para garantir que a transição de governo não impacte os serviços de saúde. Esses foram alguns consensos entre os participantes da 17ª edição do Diálogos IEPS, realizada nesta quarta-feira (18/09) e transmitida ao vivo no canal do IEPS no Youtube.
O evento contou com a participação de uma usuária do SUS no Rio de Janeiro (RJ), de profissionais e gestores do SUS de Manaus (AM), Sobral (CE) e Diamantina (MG) e fez parte das iniciativas da Agenda Mais SUS nas Cidades, um documento que apresenta cinco recomendações para que as candidatas e candidatos das Eleições Municipais 2024 priorizem a saúde pública nas suas propostas de campanha e as integrem à agenda política dos novos mandatos a partir de 2025.
Julia Pereira, analista de Relações Institucionais do IEPS, iniciou o diálogo apresentando as propostas para que prefeitos e prefeitas aprimorem o SUS nos municípios, priorizando a Atenção Primária à Saúde (APS). “Quando a APS é resolutiva, ela pode resolver de 80 a 90% dos problemas de saúde da população. Quando a gente investe menos na APS a gente sobrecarrega o sistema hospitalar, as UPAS e outros níveis de atenção. Quando ela é eficiente ela reduz as filas nesses níveis de atendimento e torna o sistema mais eficiente e mais barato”, afirmou.
Além do investimento na APS, Julia defendeu que os futuros governantes devem considerar os efeitos da transição política na saúde. Segundo a Nota Técnica n.33 do IEPS, as transições de governo municipais podem afetar tanto a oferta de serviços de saúde quanto indicadores de mortalidade infantil. Para ela, é importante que os novos representantes tenham conhecimento desse cenário, pois falhas nesse momento podem gerar consequências de até 2 anos para a população.
Marcus Brenno, gestor do Centro de Saúde de Atenção Primária de Sobral (CE), também reforçou a necessidade de atenção frente às transições de governo. “Quem mais sofre com a transição de governo é o usuário. Por isso, o processo deve ser continuado, seja na educação, seja na saúde. É preciso olhar pra trás e ver o que foi feito. A administração do município não começa do zero, já existem estratégias que podem ser avaliadas, e não simplesmente desfeitas”, destacou. Brenno também apontou a necessidade de qualificação dos profissionais de saúde e capacitação das equipes de APS para compreensão das novas políticas de financiamento da saúde.
SUS deve ser prioridade nos municípios
A necessidade de escuta das demandas da população foi enfatizada por Rubênia Pires, morada do Rio de Janeiro e usuária do Centro Municipal de Saúde Oswaldo Cruz, como uma das prioridades para futuros prefeitos e prefeitas. Para ela, que faz tratamento de hipertensão há mais de 15 anos pelo SUS, o sistema público de saúde é capaz de garantir uma atenção completa e regular de suas necessidades.
No entanto, mesmo apontando os benefícios do sistema, Rubênia destaca que a população precisa ser escutada para que o sistema melhore. “Se a população fosse ouvida os governantes poderiam arranjar soluções para que cada problema fosse resolvido. O SUS é muito bom, eu falo de coração, sempre que eu precisei fui muito bem atendida, mas se tivesse uma política de ouvir a população, como quando a ACS vai na minha casa e me ouve, seria muito importante”, afirmou.
Yolanda Cunha, agente comunitária de saúde (ACS) em Manaus, reforçou o argumento, destacando também a necessidade de investimento nas equipes de saúde que atendem populações fora dos centros urbanos. “Aquele prefeito que ganhar, precisa voltar a atenção para as pessoas ribeirinhas e do rural. Muitas vezes a atenção é só para as pessoas urbanas, da cidade, e se esquece das prioridades da população rural. Nós temos muitas necessidades, como mais médicos, mais enfermeiros. Nós trabalhamos com 12 fichas de atendimento para médicos e enfermeiros e 6 para odonto, em populações com mais de 70 pessoas”, destacou. Além da necessidade de recursos físicos e estruturais, a ACS apontou os desafios dos profissionais em contextos de crise, como durante as secas ou queimadas que atingem a região.
Mesmo apontando inúmeros desafios para o sistema, Yolanda exalta o SUS e o trabalho de seus profissionais da saúde, que, segundo ela, cuidam bem mais do que só das doenças. “Muitas vezes a pessoa não precisa só de medicação. Ela precisa ser ouvida, ser cuidada. E nosso trabalho como ACS é levar a saúde primária para todos os lugares, seja onde for”, afirmou.