O aumento no volume e na diversidade de pesquisas sobre saúde e raça nos últimos anos indicam um processo de consolidação do campo de estudos sobre saúde da população negra (SPN) no Brasil. Essa é uma das principais conclusões do artigo “O campo de estudos sobre saúde da população negra no Brasil: uma revisão sistemática das últimas três décadas”, publicado este mês na revista Saúde e Sociedade, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). O artigo é assinado por Rony Coelho, pesquisador da cátedra Çarê-IEPS, e Gisele Campos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A pesquisa analisou 400 trabalhos sobre saúde e raça publicados entre 1998 e 2020, sendo 237 (59,2%) artigos acadêmicos, 124 (31%) dissertações de mestrado e 39 (9,8%) teses de doutorado. A análise revelou um aumento no volume de publicações sobre o tema a partir da segunda metade da década de 2010, apontando para a consolidação de um campo de estudos com diversidade temática e interdisciplinaridade, após décadas de negligência nas agendas de pesquisas nacionais.
O crescimento do campo de estudos, entretanto, não é uniforme dentro da academia. O artigo mostra que houve uma queda na quantidade de dissertações e teses sobre a SPN publicadas entre 2017 e 2018, o que pode impactar negativamente a publicação de artigos em revistas. Os autores destacam a necessidade da ampliação de investimentos para um crescimento contínuo dos estudos sobre saúde e raça no país.
Para Rony Coelho, os avanços no período recente têm demonstrado a importância das pesquisas com recorte racial, tanto no Brasil quanto no contexto internacional. “É preciso compreender com profundidade os determinantes sociais da saúde, e entender que eles não se limitam à questão socioeconômica. A saúde como bem estar físico e mental é impactada pelas múltiplas dimensões da vida social, incluindo aí a raça, no contexto de um país marcado historicamente por desigualdades raciais”, afirma.
Cátedra Çarê-IEPS
O artigo é uma produção da Cátedra Çarê-IEPS, um projeto do IEPS em parceria com o Instituto Çarê. A iniciativa é dedicada à produção de pesquisas e informações qualificadas sobre a SPN no Brasil e atua desde 2022 na construção de relatórios, boletins e artigos de opinião sobre saúde e raça.