A população de menor renda é a que mais sofre com a falta de acesso a medicamentos e aos serviços de saúde no Brasil. O diagnóstico foi apresentado em artigo publicado na última edição da The Lancet Regional Health – Americas e utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013 e 2019. A pesquisa é assinada por Matías Mrejen, pesquisador do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), e Maíra Coube, ex-bolsista do IEPS e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com pesquisadores da London School of Economics.
O estudo destaca que 3,8% e 7,5% da população relataram necessidades não atendidas de acesso aos serviços de saúde e a medicamentos, respectivamente, em 2019. Essas necessidades não atendidas estão concentradas de forma desproporcional entre a população de menor renda. Ainda segundo a pesquisa, um dos principais fatores que explicam as desigualdades de acesso é o uso de planos de saúde privados. O uso desse serviço contribuiu em 40% para a desigualdade de acesso aos serviços de saúde e 73% no caso dos medicamentos.
Os motivos relatados para as necessidades de saúde não atendidas envolvem, principalmente, acessibilidade e disponibilidade. A acessibilidade está relacionada aos custos dos serviços ou medicamentos e é uma queixa mais presente entre a parcela mais pobre da população. Já a disponibilidade limitada de serviços e medicamentos foi relatada em proporções semelhantes independente da origem socioeconômica.
As disparidades socioeconômicas entre as regiões brasileiras também estão associadas às desigualdades de acesso. O artigo aponta que os maiores níveis de desigualdade de necessidades não atendidas estão no Norte do Brasil, região com um dos menores PIB per capita do país.