Desafios de acesso à saúde na Amazônia, soluções e potencialidades locais, além da integração entre saberes tradicionais e tecnologias digitais foram os principais temas do webinar “Afluentes: fortalecendo a APS no Oeste do Pará”, realizado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) na última terça-feira (06/05). O evento reuniu acadêmicos, gestores da Saúde e representantes do terceiro setor e fez parte das ações de lançamento do projeto Afluentes, que tem como premissa unir esforços para impulsionar soluções locais aos desafios da Saúde em seis municípios do Oeste do Pará. Assista o debate completo aqui.
O projeto mobiliza quase dez organizações da sociedade civil, entre parceiros, financiadores e apoiadores — um de seus principais diferenciais. “A nossa ideia é mobilizar o melhor que cada um de nós pode oferecer e construir esse trabalho juntos. As grandes coisas que podem ser feitas são as que fazemos juntos e não há outra forma de fazer coisas grandes”, destacou Arthur Aguillar, diretor de políticas públicas do IEPS durante a apresentação do projeto, que integra o programa Juntos pela Saúde, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Carla Reis, chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES, destacou o potencial transformador do projeto. “O Afluentes tem um arranjo robusto, com um braço mais teórico com o IEPS e competências de conhecimento local com os parceiros da região”, destacou Reis, que também reforçou o perfil do Juntos pela Saúde no investimento em projetos de viés estruturante para aumentar a resiliência e reduzir as vulnerabilidades do SUS nas regiões Norte e Nordeste do SUS.
O fortalecimento dos serviços de saúde na região também marcou a participação de Luiza Saraiva, gerente da iniciativa Juntos pela Saúde no IDIS. Ela enfatizou que para o IDIS é fundamental falar de saúde e investir nos territórios amazônicos, que muitas vezes são invisibilizados. “Nossa expectativa é que com o Afluentes, a gente possa levar atenção especial para essas populações e atender as expectativas de melhoria e expansão no atendimento das populações”, afirmou.
João Abreu, fundador da ONG ImpulsoGov, organização que atua como parceira técnica do Afluentes, destacou a contribuição do eixo de tecnologia digital, voltado à criação de mecanismos de mensageria adaptados ao contexto local, com o objetivo de levar o SUS a quem mais precisa e não está sendo atendido pelos meios tradicionais. “É uma peça dessa engrenagem muito maior que conta com todos esses parceiros”, pontuou.
O Projeto Saúde e Alegria (PSA), que também é parceiro técnico do projeto, atua há mais de 30 anos em comunidades da Amazônia brasileira e terá um papel indispensável para a implementação do Afluentes.
“Nós trabalhamos na bacia do rio Tapajós com saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento territorial e hoje estamos focando na construção de saúde territorial. Esse projeto vem trazer uma qualificação em algo que tem um estrangulamento muito grande que é a gestão na atenção primária em saúde. Vamos contribuir com a nossa regionalidade e, junto com as lideranças e as pessoas, criar o diálogo que servirá para as mensageiras”, explicou Eugênio Scannavino , fundador do PSA.
Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, que também é parceira do projeto, destacou a relevância de todos os parceiros envolvidos no Afluentes, o tema do projeto e a abordagem e inovação do projeto, que considera o contexto cultural e a regionalidade dos territórios em que será implementado. “Essa é uma consolidação muito importante de um trabalho em prol da saúde pública que vem sendo feito de maneira consistente”, afirma.
Soluções holísticas e reconhecimento geográfico, cultural e operacional da Amazônia
A necessidade de uma abordagem abrangente para os desafios da saúde na Amazônia foi reforçada por Aldenize Xavier, reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
“O que precisamos é uma solução holística, uma solução que não vai passar por uma atitude ou ação específica, mas por um conjunto de ações que envolve formação, investimento e reconhecimento cultural”, destacou Xavier, que apresentou a experiência com o navio-hospital-escola Abaré, uma unidade básica de saúde fluvial (UBSF) que leva serviços de saúde a Santarém, Belterra e Aveiro.
Para Altair Farias, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e consultor técnico da SEIDIGI/MS, a integração entre conhecimento local e recursos tecnológicos pode fortalecer e melhorar muito o serviço de saúde na região. Ele reforçou que a diversidade e as especificidades da Amazônia devem ser consideradas na construção de arranjos organizativos adequados à realidade local para minimizar os desafios e capilarizar a Saúde.
“Qualquer ação na Amazônia precisa ter um adequado reconhecimento geográfico, cultural e operacional para ter sucesso. Nós precisamos saber de qual Amazônia estamos falando. Nós temos diferentes Amazônias e nós, amazônidas, conhecemos muitas delas. Precisamos levar em conta o conhecimento dessa população, que é muito diversa”, enfatiza o professor, citando as populações e tratamentos tradicionais.
Ele também destacou os desafios de mobilidade da região, que é impactada por fatores como as grandes distâncias, o custo de combustíveis e a sazonalidade ambiental. Segundo ele, os rios determinam a vida da população amazônica e o trabalho dos profissionais da saúde, destacando que áreas mais remotas podem ficar inacessíveis de acordo com o fluxo dos rios. Além disso, a seca ou cheia dos rios também determina o perfil epidemiológico sazonal. “Existem as doenças da Amazônia da época das cheias e doenças das secas”, destacou.
Flávio Garajau, secretário de saúde de Irituia e diretor do Cosems/PA, que representou a Jucineide Barbosa, secretária de Saúde do município de Breves e presidente do Cosems/PA, destacou que o Afluentes é uma grande conquista para a região.
“O estado do Pará tem 8,5 milhões de habitantes, a região que o projeto tenta buscar é de 450 mil e, se considerarmos toda a região Oeste, esse número é de quase 1 milhão de habitantes. Isso é desafiador, mas estamos conseguindo algumas vitórias e esse projeto é uma vitória extraordinária”, pontuou Garajau, que reforçou que muitos desafios ainda precisam ser enfrentados na região.
Afluentes
O projeto é realizado pelo Instituto de Políticas de Saúde (IEPS) e financiado pelo programa Juntos pela Saúde, uma iniciativa idealizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), gerida pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), em parceria com a Umane. O Afluentes é realizado com o apoio técnico do Projeto Saúde e Alegria (PSA) e da ONG ImpulsoGov. Além do Juntos pela Saúde, o projeto também recebe apoio do Instituto Arapyaú e Concertação pela Amazônia.
A iniciativa propõe o aprimoramento de linhas de cuidado de pré-natal e hipertensão arterial nos municípios de Aveiro, Belterra, Curuá, Oriximiná, Itaituba e Santarém, localizados no oeste do estado do Pará. São previstas três grandes contribuições para a atenção primária, como a construção de protocolos clínicos para pré-natal e hipertensão, a implementação de ferramentas digitais de mensageria e o estabelecimento de uma rede de conexão ampliada, com a instalação de internet nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios.